A fonte



Neto do comunista Alfredo Silva, o jornalista Alberto Santos foi daqueles que segundo o irmão dele, o estudante de História, Alexandre Santos, fez parte da esquerda festiva. Alberto participou de campanha eleitoral de grêmio estudantil, foi a manifestação em Brasília, onde se encantou com o Movimento dos Trabalhadores sem Terra, ajudou a montar exposição sobre Cuba. Aliás seu sonho era conhecer a ilha caribenha, museu do comunismo. Por várias vezes tentou convencer o avô comunista a viajar para a terra de Fidel. Na primeira eleição em que votou escolheu um candidato em quem acreditava se aproximar do socialismo. Foi se endireitando ao longo dos anos. Por mais que o avô, adoentado no hospital que dissesse que “o caminho é pela esquerda”. Frustrou-se com o Partido dos Trabalhadores (PT), que se transformou no Partido dos CorruPTos. Ainda assim, era totalmente contra a volta da ditadura, defendida por muitos. Afinal ouvira de seu avô relatos sobre prisões, torturas e desaparecimentos durante o regime militar no Brasil.

Mas agora Alberto Santos estava inativo. Não gostava de dizer que estava desempregado. Pois segundo aprendeu o conceito de desempregado era para quem estava procurando emprego. Ele se conformava com o fato do pai, Altino Silva, ser assessor de um vereador na cidade e poder lhe ajudar com as contas de casa. A esposa de Alberto, Albertina – há casais que se juntam pela aparência física semelhante, outros pelos nomes parecidos – fazia faxina para fora. E Alberto era quem cuidava dos cinco filhos, quatro meninas e um menino mais novo – Alberto dizia que ia tentar um menino até o sétimo filho, mesmo que este virasse lobisomem. Pois bem, Alberto ficava em casa, cuidando dos filhos, vendo televisão e no computador. Ele havia acabado de ser demitido do jornal em que trabalhava, o jornal chapa branca do governo municipal, pelo fato de ter chegado atrasado para fazer uma matéria paga em outro município. No tempo em que ficou no jornal, pouco menos de seis meses na editoria de política, havia tido contato com diversos políticos e ficaria sabendo de vários detalhes dos bastidores da política local. Foi quando teve a grande ideia da sua vida. Ele agora se tornaria uma fonte. Uma fonte de notícias bombásticas, denúncias, escândalos, tudo de sujo que descobriu ao longo de tanto tempo, mas que por questões éticas e morais não pôde divulgar. Mas que agora ele queria revelar por puro prazer.

Começou ligando para o principal repórter de política do jornal rival ao que ele trabalhou, o jornal de oposição. Ricardo Fernandes era um jornalista astuto. Tinha um blog hospedado no jornal, o mais lido da publicação, que gerava reportagens na edição do dia seguinte. A primeira notícia de Alberto seria o vazamento da saída de alguns secretários do estafe municipal. Era fim de ano e as coisas não andavam boas para o prefeito Valdir Salomão. Alberto, que vivia no meio político, tinha ouvido de pessoas influentes no governo que três secretários iriam sair no início do próximo ano. À princípio, Alberto não revelou os nomes para Ricardo, que deu uma pequena nota no seu blog comentando sobre a possível saída dos secretários. No outro dia, o comentário era geral na cidade entre as pessoas que gostavam de conversar sobre política. Quem seriam os tais três secretários que seriam retirados do cargo?

A notícia caiu como uma bomba no gabinete do prefeito Valdir Salomão, que queria saber quem vazou a informação. Não custou muito e vários secretários compareceram ao gabinete do prefeito no que se tornou uma grande reunião administrativa. Com medo de perderem o cargo, os secretários se apressaram em apresentar relatórios de feitos de sua pasta. O prefeito ponderava e dizia que não tinha nenhuma demissão em mente, mas já que o caso veio à tona que os secretários abrissem o olho e cuidassem melhor de suas pastas para o bem da população e de seus bolsos e seus apadrinhados. Afinal, todos sabiam que a prefeitura era uma grande mãe e viúva que emprega milhares de cabos eleitorais, como acontece na maior parte do país.

Desta vez foi Ricardo quem ligou para Alberto. Afinal, o editor chefe do jornal estava lhe cobrando os nomes dos secretários para a edição seguinte. Alberto citou dois nomes e ficou devendo um. Um dos nomes citados era de Marquinhos Pescador, secretário de agricultura, que até fazia um bom trabalho em sua pasta, afinal mesclava um pouco de técnica com o faro político. O problema era que Paulinho havia se separado da filha do vereador Euclides Maciel, que era o líder da bancada governista na Câmara e que teria ficado chateado pelo fato de Marquinhos ter largado a sua filha para ficar com a secretária dele, Luana, uma jovem de 20 anos.

A coisa começava a ficar feia à medida em que se futucava. Daí um caso pessoal virou motivo de demissão de secretário. A própria Felismina havia pedido ao pai Euclides que demitisse o antigo marido Marquinhos, pela traição e desaforo em deixá-la. O jornal da oposição no outro dia trazia na primeira dobra da capa a manchete em letras garrafais: “Prefeito pode demitir secretário que traiu filha de vereador”. Foi a senha para o maior furdúncio na cidade. Muita gente ainda não sabia que Marquinhos e Felismina haviam se separado. Mais do que uma reportagem política, a notícia virou fofoca.

Luana era um mulher linda, de rosto e corpo. Quando Marquinhos a viu foi paixão à primeira vista. Luana usava um vestido preto básico curto. E tinha ido ao gabinete de Marquinhos levar um currículo para pedir emprego. Marquinhos a perguntou se ela sabia usar computador. Ela respondeu que não. E Marquinhos disse que não tinha problema, que ele ensinava. E pediu à garota para sentar, pegou na mão dela e colocou no mouse. Ela tomou um susto. Falou: mouse, cruzes, aí meu Deus, mouse é rato em inglês! Marquinhos disse: Pois está contratada. Sabe inglês, já provou que é inteligente! E Luana começou ali mesmo sua jornada de secretária e amante do vereador.

Wesley Machado

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